O presidente francês Emmanuel Macron e a chanceler alemã, Ângela Merkel, anunciaram um novo lockdown, enquanto uma segunda onda de infecções por corona vírus ameaça a Europa.
Os mercados de ações mundiais foram derrubados em resposta à notícia de que as maiores economias da Europa estão impondo restrições nacionais quase tão severas quanto as que conduziram a economia global deste ano à sua recessão mais profunda em décadas.
“O vírus está circulando a uma velocidade que não era esperada nem mesmo pelas previsões mais pessimistas”, disse Macron em um discurso televisivo.
“Como todos os nossos vizinhos, estamos submersos pela aceleração repentina do vírus”.
“Estamos todos na mesma posição: invadidos por uma segunda onda que sabemos que será mais difícil, mais mortal do que a primeira”, disse ele.
“Decidi que precisamos voltar ao lockdown que parou o vírus.”
De acordo com as novas medidas francesas que entram em vigor na sexta-feira (30), as pessoas serão obrigadas a permanecer em suas casas, exceto para comprar itens essenciais, procurar atendimento médico ou fazer exercícios por até uma hora ao dia.
Elas serão autorizados a trabalhar se o empregador considerar que não é possível trabalhar de casa.
As escolas permanecerão abertas.
Como nos dias mais sombrios da primavera europeia, quem sair de casa na França agora terá que carregar consigo um documento que justifique sua saída, que pode ser verificado pela polícia.
Alemanha fechará bares, restaurantes e teatros de 2 a 30 de novembro sob medidas acordadas entre Merkel e chefes de governos regionais.
As escolas permanecerão abertas e as lojas poderão operar com limites de acesso.
“Precisamos agir agora”, disse Merkel.
“Nosso sistema de saúde ainda pode lidar com esse desafio hoje, mas com essa velocidade de infecções, ele atingirá o limite de sua capacidade em semanas”.
Seu ministro da Fazenda, Olaf Scholz, publicou no Twitter: “Novembro será o mês da verdade.
O número crescente de infecções está nos forçando a tomar contramedidas duras para quebrar a segunda onda”.
A França tem registrado mais de 36.000 novos casos por dia.
A Alemanha, que foi menos atingida do que seus vizinhos europeus no início deste ano, viu um aumento exponencial nos casos.
Nos Estados Unidos, uma nova onda de infecções vem batendo recordes seis dias antes das eleições.
O presidente Donald Trump minimizou o vírus e não mostra sinais de que irá cancelar comícios públicos, onde seus apoiadores geralmente se recusam a usar máscaras ou manter uma distância segura.
Os mercados de ações europeus fecharam em seus níveis mais baixos desde o final de maio na quarta-feira (28).
Nos Estados Unidos, o S&P 500 caiu 3%.
Em um esforço para reduzir o impacto econômico, a Alemanha irá reservar até 10 bilhões de euros (12 bilhões de dólares) para reembolsar parcialmente as empresas pelas vendas perdidas.
A Itália reservou mais de 5 bilhões de euros.
SE ESPERARMOS SERÁ TARDE DEMAIS
Embora os líderes estejam desesperados para evitar o prejuízo dos lockdowns, as novas restrições refletem preocupação com o ritmo galopante da pandemia na Espanha, França, Alemanha, Rússia, Polônia e Bulgária.
“Se esperarmos até que as unidades de terapia intensiva estejam cheias, será tarde demais”, disse o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, cujo país já acolheu pacientes da vizinha Holanda, onde os hospitais atingiram seus limites.
A vice-primeira-ministra russa, Tatiana Golikova, disse na quarta-feira que os leitos hospitalares atingiram 90% da capacidade em 16 regiões do país, enquanto as autoridades alertaram que mesmo sistemas de saúde bem equipados como os da França e da Suíça podem chegar ao limite em alguns dias.
As esperanças de que novos tratamentos possam conter a disseminação do vírus foram abaladas quando o chefe da força-tarefa de aquisição de vacinas da Grã-Bretanha disse que uma vacina totalmente eficaz pode nunca ser desenvolvida e que as primeiras versões provavelmente serão imperfeitas.
Os números publicados pela Organização Mundial de Saúde na terça-feira (27) mostraram que a Europa reportou 1,3 milhão de novos casos nos últimos sete dias, quase metade dos 2,9 milhões relatados em todo o mundo, com mais de 11.700 mortes, um salto de 37% em relação à semana anterior.
Até agora, mais de 42 milhões de casos e mais de 1,1 milhão de mortes pelo vírus foram registrados em todo o mundo, que foi identificado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan no final do ano passado.
Governos em toda a Europa têm sido criticados pela falta de coordenação e por não usar o período de trégua nos casos durante o verão para reforçar as defesas, deixando hospitais despreparados.
Desde o fim de semana passado, polícia e manifestantes entraram em confronto repetidamente em cidades italianas de Nápoles a Turim.
Proprietários de restaurantes e grupos empresariais têm sido críticos.
“Às 18h o transporte público costuma estar lotado.
Você se arrisca porque tem que trabalhar. Você usa máscara, álcool gel”, disse Elio Venafro após descer de um ônibus no centro de Roma na quarta-feira. “É o novo normal”.