Dívidas das famílias batem recorde. Cartão é a saída (cara) para recompor renda.

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O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer alcançou 77,7% do total de famílias brasileiras em abril, a maior proporção da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

Em abril de 2021 a parcela correspondia a 67,5%. Na comparação com março de 2022, o índice avançou 0,2 ponto percentual (p.p.).

O endividamento seguiu crescendo nos dois grupos apurados, com destaque para o das famílias com ganhos acima de dez salários mínimos, que desde o início do ano vem apresentando avanço mais acelerado do que o da parcela com menor renda.

Com 74,5% das famílias mais abastadas endividadas, o percentual é o maior da série histórica da pesquisa, registrando alta de 0,8 p.p., na comparação com março, e 11,4 p.p. na comparação com abril de 2021.

Isso significa que praticamente 3 em cada 4 famílias que ganham mais têm dívidas.

No grupo com renda até dez salários mínimos, o percentual de endividados chegou a 78,6%, subindo 10 p.p. em relação a abril de 2021.

Entre as famílias de menor renda, o indicador de contas/dívidas atrasadas destacou-se ao alcançar 31,9%, quase 1 em cada 3, o maior nível histórico.

Já entre as famílias com renda superior a dez salários mínimos, o percentual também aumentou e alcançou 13,5% de famílias, o maior percentual desde abril de 2016.

“A inflação alta, persistente e disseminada (IPCA em 11,3% ao ano) mantém a necessidade de crédito para recomposição da renda, fazendo com que as famílias encontrem nos recursos de terceiros uma saída para a manutenção do nível de consumo”, avalia o presidente da CNC, José Roberto Tadros.

Apesar de oferecer os custos mais elevados, o cartão de crédito segue como o tipo de dívida mais comum entre os consumidores.

O endividamento no cartão de crédito foi a única modalidade que apresentou aumento em abril, representando 88,8% de famílias com dívidas e revelando que o endividamento está ocorrendo essencialmente no consumo de curto prazo.

A tendência já havia sido observada no levantamento feito pelo Banco Central

A economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, avalia que a alta da inadimplência nas duas faixas de renda está associada ao consumo em um pior ambiente inflacionário.

“Os orçamentos mais acirrados têm levado mais famílias a atrasarem o pagamento de contas e dívidas e usarem mais o cartão de crédito, que é a modalidade de dívida para o consumo de curto prazo”.

A parcela da população com dívidas ou contas em atraso também alcançou o maior patamar histórico, atingindo 28,6% do total de famílias, com alta de 0,8 p.p. na passagem mensal e de 4,3 p.p. acima do apurado em abril de 2021.

O valor também representa crescimento de 4,4 p.p. em relação ao registrado em fevereiro de 2020, antes da pandemia.

O tempo de comprometimento com dívidas caiu novamente em abril (7,1 meses), com mais pessoas endividadas no período de até três meses (25,1% do total de endividados). Já o percentual de endividados por mais de um ano segue em queda, representando 32,9% dos endividados.

Já a fração que declarou não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e, portanto, permanecerá inadimplente chegou a 10,9% e apresentou aumento mais modesto de 0,1 p.p. ante março.

O percentual é 0,5 p.p. maior do que o registrado em abril de 2021 e o maior desde dezembro de 2020.

A Peic é apurada desde janeiro de 2010 pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).