Estratégia Covid Zero em cheque – Tão contagiosa quanto a catapora, a variante delta está se mostrando um adversário mais difícil para a China
A China reduziu a zero os casos de Covid-19 por três vezes, nos últimos cinco meses, mas os surtos estão aumentando com mais frequência do que antes, levantando questões sobre até quando a nação pode dar continuidade a uma estratégia que a está deixando cada vez mais isolada.
Existe hoje um confronto entre um regime de contenção, que é indiscutivelmente o mais abrangente do mundo – com fronteiras fechadas, testes em massa, rastreamento exaustivo de contatos e regras rígidas para viagens e deslocamentos – e um agente patogênico que está cada vez mais hábil em driblar as defesas desenvolvidas para interromper a transmissão.
Tão contagiosa quanto a catapora, a variante delta hoje representa um adversário astuto para a China, o último país do mundo a se comprometer totalmente com a estratégia Covid Zero, de eliminar todos os casos.
O último surto se espalhou por 11 províncias e se infiltrou em Pequim, a capital fortemente controlada.
As autoridades estão alertando que a situação pode piorar ainda mais, e fecharam uma cidade na fronteira com a Mongólia, que relatou o maior número de infecções nesta crise atual.
Depois que o surto inicial em Wuhan foi contido, a China conseguiu ficar até dois meses sem um grande surto local.
Isso permitiu que a segunda maior economia do mundo mantivesse as fábricas funcionando, os consumidores gastando e os residentes viajando dentro de suas fronteiras. Foi o único grande país a apresentar crescimento econômico em 2020.
Mas contar com a mesma estratégia para sufocar a delta colocou em cheque a expansão neste ano.
Bloqueios, suspensão de viagens aéreas e ferroviárias e outras medidas destinadas a conter a propagação da delta, que atingiu metade do país durante o verão, afetaram os gastos por parte dos consumidores.
Os surtos subsequentes desde então continuaram a pesar sobre o sentimento do consumidor, gerando redução considerável na demanda e nas atividades de viagens durante o normalmente agitado feriado do Dia Nacional, no início deste mês.
Ainda assim, o governo e as autoridades de saúde não mostram sinais de recuo quanto ao compromisso Covid Zero, pelo menos não antes das Olimpíadas de Inverno, programadas para fevereiro.
Sem reabertura
Ao fortalecer o compromisso de eliminar as infecções, a China está indo contra uma tendência global, que vê na coexistência com o vírus e na dependência de vacinas para se proteger contra doenças graves, o cenário inevitável para a pandemia.
Outros países da região, que buscaram implementar a abordagem Covid Zero, estão começando a mudar de posição. Singapura e Austrália estão afrouxando as quarentenas e a Nova Zelândia parece ter aceitado que seu último surto – também alimentado pela delta – provavelmente não poderá ser zerado.
Todos traçaram planos para a reabertura ao mundo, que inclui a aceitação de que novos casos vieram para ficar.
A China até agora não demonstra interesse em compartilhar essa visão, e as autoridades ainda não articularam nenhum caminho alternativo para o futuro próximo.
Isso preocupa os investidores, disseram analistas da Natixis SA, em nota aos clientes no final de setembro.
Embora a abordagem Covid Zero tenha sido bem sucedida em conter o vírus, ela torna a China “cada vez mais exposta a custos econômicos de longo prazo devido às incertezas quanto a saídas possíveis”, disseram os analistas.
“Essa incerteza está criando maior volatilidade e tem piorado o sentimento em torno de investimento nos últimos meses.”