Para especialistas, consumo crescente no país asiático e limitações para o aumento de rebanhos dificultam queda.
O preço da carne pode ficar nas alturas por anos, estimam especialistas. Em supermercados e açougues houve aumento de mais de 30% em um mês em alguns cortes. A alta se deve a uma combinação de fatores. O principal é o aumento das exportações brasileiras para a China, cujos rebanhos de porcos foram reduzidos à metade pela febre suína africana. Com menos proteína suína, os chineses passaram a importar mais esse tipo de carne e também outras, como a bovina e de aves. Como os chineses pagam mais e o dólar em alta aumenta os ganhos, os produtores brasileiros preferiram aumentar a exportação para o país asiático, o que reduziu a oferta interna e elevou os preços por aqui. O modelo econômico de crescimento da China vem mudando desde 2010, com aumento constante do consumo doméstico.
De janeiro a outubro de 2019, o Brasil exportou para a China 3,86 milhões de toneladas de carne suína, bovina e de frango, um aumento de 44% em relação ao mesmo período de 2018. segundo Roberto Dumas, professor de Economia Internacional do Ibmec, a demanda chinesa deve se manter alta por anos:
– O aumento do consumo dos chineses, com alta da renda dos trabalhadores, é estrutural. E se a China não produz para a demanda interna, acaba importando do agronegócio brasileiro. Isso veio para ficar. O que a China abateu de suínos deve ser recuperado só daqui a 5 ou 6 anos.
A demora também se refere ao ciclo do boi. Enquanto o frango demora de 45 a 60 dias para ser abatido – o que facilita o ajuste da oferta de acordo com a demanda -, e o porco leva de 100 a 120 dias para ser engordado, o boi, em geral, leva de 4 a 6 anos no pasto. Com tecnologia, esse período pode ser abreviado para 3 anos, mas a expansão da oferta ainda é lenta.