Crise maior para informais

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Dados do IBGE mostram avanço do desemprego no trimestre encerrado em abril,chegando a 12,6%. São 12,8 milhões de pessoas em busca de trabalho. A queda recorde da população ocupada é pior para quem não tem carteira assinada: dos 4,9milhões que perderam o trabalho no período, 3,7 milhões são informais.

Como avanço da pandemia do coronavírus, a taxa de desemprego no país subiu de 11,2% em janeiro para 12,6% no trimestre encerrado em abril.

No total, 12,8 milhões de pessoas estão em busca de uma oportunidade de trabalho.

Os números divulgados ontem pelo IBGE mostram, porém, que a crise é mais dura para o trabalhador informal.

No trimestre encerrado em abril, a população ocupada teve queda recorde para 89,2 milhões. Neste período ,4,9 milhões de brasileiros perderam o emprego.

Deste total, 3,7 milhões eram profissionais sem carteira assinada.

O volume de demissões foi tão intenso neste segmento que a taxa de informalidade, ou seja, a proporção de pessoas empregadas sem direitos trabalhistas caiu para 38,8%, menor nível desde 2016, o início da série.

A quedada taxa de informalidade não necessariamente acontece porque os trabalhadores estão se formalizando.

Todos estão perdendo seus empregos, todos estão saindo da ocupação, mas os informais saem em uma intensidade maior, destaca Adriana Berenguy, analista do IBGE.

O IBGE inclui nesse grupo de 34,6 milhões de pessoas os empregados do setor privado sem carteira, domésticos sem carteira, trabalhadores por conta própria sem CNPJ, empregadores sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares.

Para ajudar os informais durante a crise, o governo lançou o auxílio emergencial de R$ 600, com duração prevista de três meses, mas parlamentares e equipe econômica já discutem algum tipo de prorrogação, mesmo que com outro formato ou valor.

Segundo os economistas, os trabalhadores sem direitos seguirão como os mais afetados nos próximos meses.

A situação ficou pior para os informais porque este setor concentra comércio e serviços, atividades que precisam que as pessoas saiam de casa.

Por enquanto, eles têm o auxílio, mas quando o pagamento acabar e eles estiverem sem qualquer compensação, vão voltar a procurar algum tipo de emprego.

Mas não há garantia de que consigam, tanto na formalidade quanto na informalidade, afirma Daniel Duque, pesquisador de Economia Aplicada do Ibre/FGV.

Para os economistas, a perda mais intensa de vagas dos sem carteira está atrelada à fragilidade das relações de trabalho neste tipo de emprego.

É mais simples e menos oneroso dispensar um trabalhador informal ou suspender a prestação de serviços de um conta própria, já que não há vínculos formais, destaca Marcos Hecksher, economista e pesquisador do Ipea.

Na crise, além dos informais sofrerem a maior queda, têm o maior impacto. Eles não contam com proteções sociais como seguro-desemprego, INSS ou FGTS.

E na reabertura da economia podem seguir sendo penalizados, caso a população siga com receio de sair de casa, prejudicando as atividades de grande parte dos informais.

Como tradicionalmente os trabalhadores sem carteira recebem salários menores, com o maior volume de demissões neste segmento, o rendimento médio real dos trabalhadores ocupados subiu 2%, para R$ 2.425 em abril, o maior nível da série.

Isso ocorre porque quem ficou emprega dotem remuneração um pouco mais elevada.

Em compensação, com menos gente trabalhando, a massa de rendimentos, a soma das remunerações de todos que estão empregados, teve a maior queda já registrada em abril, um recuo de 3,3% na comparação com o trimestre encerrado em janeiro.


Desalento atinge 5 milhões

Apesar do aumento da taxa, analistas ponderam que a medida provisória 936, que permitiu a redução de jornada e salário ou suspensão temporária de contrato, impediu um aumento ainda maior do desemprego.

Mais de 8 milhões de trabalhadores aderiram.

A MP 936 ajudou. Uma parcela dos empregadores optou por suspender temporariamente contratos ou reduzir jornada e salário, destaca Vitor Vidal, economista sênior da XP Investimentos.

A população desalentada (que não procura vaga por acreditar que não vai encontrar ou que não tem as qualificações necessárias) foi recorde da série, totalizando cinco milhões de brasileiros.

Houve crescimento de 7% em relação ao trimestre anterior.
A queda no emprego foi generalizada.

Entre janeiro e abril, houve recuo de 5,6% na indústria, de 6,8% no comércio e um tombo de 13,1% na construção civil.

Para Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, o setor de serviços ainda vai demoraras e recuperar.

O processo de reabertura é gradual e ainda proíbe a operação de várias atividades.